Encontro discute a situação dos advogados |
Fonte:
ASCOM/ALBA
As dificuldades enfrentadas
pelos advogados baianos durante a pandemia da Covid-19, com fóruns e cartórios
públicos fechados, foram debatidas em audiência pública realizada na manhã
desta quarta-feira (5) pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia
Legislativa da Bahia (ALBA).
O encontro virtual, que teve
um grande número de participantes, foi conduzido pelo deputado Paulo Câmara
(PSDB), vice-presidente da CCJ e também autor do requerimento para realização
da audiência. Durante o evento, cujo tema foi “Quem precisa de Justiça não pode
esperar - É dever do Magistrado atender a Advocacia”, os profissionais
relataram as dificuldades que estão tendo para trabalhar e darem seguimento aos
processos de seus clientes.
Além da presença maciça dos
advogados de diversos municípios baianos, a audiência virtual teve as presenças
também da juíza Nartir Dantas Weber, presidente da Associação dos Magistrados
da Bahia (Amab); do desembargador Osvaldo de Almeida Bomfim, corregedor das
comarcas do interior do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), do ouvidor
conselheiro nacional de Justiça, André Guimarães Godinho; e do presidente da
OAB da Bahia, Fabrício Castro.
A audiência recolheu dezenas
de depoimentos de advogados sobre as dificuldades de atuarem durante a
pandemia. O presidente da Caixa de Assistência dos Advogados da Bahia (CAAB),
Luiz Augusto Reis Coutinho, contou que os advogados estão impossibilitados de
trabalhar com os fóruns de Justiça e cartórios públicos fechados. “A advocacia
está passando fome, é isso que precisamos discutir. Não é possível que os
advogados não tenham como fazer seus processos andarem”.
Para Coutinho, a advocacia
se faz com “barriga no balcão, caminhando pelos fóruns”. De acordo com ele,
depois de mais de um ano fechado por causa da pandemia, chegou à hora do Poder
Judiciário baiano reabrir na Bahia.
O advogado do município
baiano de Itanhém, Rodrigo Canela, tem uma avaliação diversa do colega. Para
ele, não é necessário que os fóruns estejam abertos, basta que estejam
funcionado. “Precisamos ter acesso aos servidores que trabalham nos fóruns,
inclusive aos magistrados. Não precisa ser pessoal, pode ser por telefone ou
através dos novos sistemas tecnológicos”.
Canela lembrou a resolução
do Conselho Nacional de Justiça que dá o prazo de 48 horas para magistrados e
servidores deem resposta sobre o atendimento aos advogados. E observou que, em
muitos casos, o acesso ao número de telefone ou e-mail do juiz é negado. “Se
não tenho o e-mail ou telefone do magistrado como faço cumprir essa
resolução?”, questionou ele, lembrando que os maiores prejudicados não são os
advogados, mas os jurisdicionados.
Outra advogada a se queixar
das dificuldades foi a vice-presidente da OAB-BA, Ana Patrícia Dantas Leão.
Para ela, a bandeira a ser defendida agora a da reabertura da Justiça da Bahia
já. “É lamentável a exclusão da advocacia do Poder Judiciário na Bahia. Não
conseguimos mais suportar estarmos do lado de fora das portas da Justiça e, por
isso, precisamos de soluções imediatas para essa crise”, afirmou.
Na avaliação da vice-presidente
da OAB, os advogados sempre tiveram dificuldades para terem o atendimento
adequado pelo Poder Judiciário, mesmo em tempos fora da pandemia. Ele acredita
que existe uma confusão muito grande entre o público e o privado. “A advocacia
é parte integrante e essencial à prestação de Justiça”, defendeu.
Já o presidente da OAB de
Feira de Santana, Rafael Pitombo, acredita que o Tribunal de Justiça da Bahia
(TJ-BA) perdeu uma grande oportunidade de fazer do atendimento remoto uma
regra. “Esse atendimento remoto que está aí é uma verdadeira enganação. Cerca
de 90 % dos colegas hoje não conseguem ser atendidos. Eles ligam, mandam e-mail
e, quando recebem uma resposta, ela é resposta automática padrão”. Ele
compartilha da opinião de Ana Patrícia Dantas. “Os problemas do Poder
Judiciário não vieram com a pandemia; eles se agravaram com a pandemia”.
A representante dos
magistrados, Nartir Dantas Weber, argumentou que o principal problema do
Judiciário da Bahia é a escassez de juízes. De acordo com ele, hoje são cerca
de 600 juízes para atender a demanda de aproximadamente 40 mil advogados.
“A gente compreende o quanto
é difícil dar uma resposta ao cidadão que busca justiça e não vê o seu processo
andar”, admitiu Nartir, culpando as “dificuldades estruturais” do Poder
Judiciário. “O fortalecimento do Judiciário baiano passa pela união de todos os
envolvidos e o Tribunal, para que possamos dar a resposta à sociedade, acerca
do nosso trabalho, do desempenho da nossa função e das dificuldades
enfrentadas”, afirmou.
O desembargador Osvaldo
Bomfim pediu uma ata da audiência virtual para encaminhar ao presidente do
TJ-BA, Lourival Trindade. Ele argumentou que o tribunal está seguindo todas as
recomendações do CNJ e das autoridades sanitárias, mas argumentou que já é
possível começar a discutir a reabertura dos fóruns e cartórios públicos
atendendo às normas de segurança. E acrescentou que a Ouvidoria está aberta
para receber denúncias de abusos e descaso, desde que sejam baseados em fatos
concretos.
Já presidente da OAB-BA,
Fabrício Castro, acredita que só por meio da tecnologia o Judiciário pode obter
avanços e até um aumento de produção. “Nesse período de pandemia tivemos muita
dificuldade, mas acho que esse é o caminho do futuro. Se não usarmos a
tecnologia a nosso favor será muito difícil o futuro do Judiciário”, observou.
Ao encerrar a audiência, o
deputado Paulo Câmara destacou que a Assembleia Legislativa sempre foi parceria
do Tribunal de Justiça, com a aprovação célere de projetos e outras medidas. “Agora,
acredito que a mesa diretora do Tribunal de Justiça deve sentar com o
governador do Estado e buscar soluções para esses problemas apresentados”,
afirmou, assegurando que o Parlamento será parceiro na tentativa de encontrar
soluções.
Câmara afirmou que a Justiça
não pode ficar durante mais de um ano por causa da pandemia. “Quando a gente vê
o magistrado sem querer atender por mais de um ano nos perguntamos: ele deixou
de receber por mais de um ano? Tenho certeza que não”. Para ele, é necessário
encontrar soluções, principalmente as tecnológicas, para que o Poder Judiciário
continue servindo a população baiana e citou o exemplo da Assembleia: “Essa
Casa não parou em nenhum momento”.
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